terça-feira, 25 de outubro de 2016

“Para trabalhar o cinema é preciso intencionalidade”, aponta pesquisadora





28/01/2014
Por Ana Luiza Basílio

“Toda experiência audiovisual é educativa para o bem ou para o mal”. A fala de Cláudia Mogadouro, pesquisadora do Núcleo de Educação e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), dava o tom do que seria a conversa sobre cinema e educação. A especialista foi convidada pela equipe do Centro de Referências a debater os potenciais educativos do cinema e também a olhar para a condução dos trabalhos feitos por escolas e professores com seus alunos. No bate-papo, Cláudia aponta a falta de uma cultura audiovisual nos processos pedagógicos e a necessidade de se adotar uma postura de mediação quando a ideia é inserir um filme no contexto educacional. “Para trabalhar o cinema é preciso intencionalidade”, reforça a pesquisadora. Confira a entrevista na íntegra.
Centro de Referências em Educação Integral: Em que medida o cinema é educação?
Cláudia Mogadouro: Para responder a essa questão, recorro a um pensamento de Marília Franco, uma das pesquisadoras de cinema e educação mais antiga no Brasil: toda experiência audiovisual é educativa para o bem ou para o mal. Tudo o que influencia, transforma, é educativo. O que acontece é que muitos produtos audiovisuais seguem a lógica de mercado, que é diferente da lógica da educação. Por exemplo, o Big Brother é educativo? Sim, porque cria valores (não que eu concorde com eles!), hábitos, promove reflexão. Entreter também é educar. A questão é que é preciso oferecer um contraponto a essa fórmula de mercado, que raramente apresenta muitos desafios. Uma criança de três anos já tem uma cultura audiovisual formada, quer a escola queira ou não. Então, quanto mais a instituição dialogar com isso, melhor.
CR: Como estabelecer esse diálogo?
Cláudia Mogadouro: Tradicionalmente, a escola sempre deixou em segundo plano o audiovisual. Isso revela muito também do despreparo dos professores com sua falta de repertório. Todos nós somos influenciados pela televisão, mas não temos uma formação em linguagem audiovisual. A escola ainda reproduz um método autoritário que propõe assistir ao filme e produzir uma redação. Aí se estragou uma experiência. Isso porque se perde a fruição. A ideia é que a atividade seja prazerosa e conte com uma mediação.
É fundamental que o professor faça alguma introdução do assunto para que o aluno chegue a suas interpretações. Também é importante que se leve em conta que o cinema é polissêmico, ou seja, permite muitos significados em torno dele. E, portanto, alunos e professores terão olhares diferenciados para os títulos, baseados em suas experiências, o que também deve ser valorizado em uma dinâmica de cultura do debate.
Isso convida a uma quebra do paradigma educacional de que o professor sabe tudo. Para trabalhar com cinema é preciso se despir dessa ótica de que o professor está lá para transmitir conhecimento. Isso vem da educação jesuítica e ainda está muito arraigado na cultura escolar, favorecendo a cultura passiva do aluno que tem medo do erro. Não há certo e errado. O cinema se propõe ao não linear, ao interdisciplinar, desconcertando essa lógica. O papel do professor, no caso, é o de estimular o diálogo em cima de uma experiência audiovisual.
CR: Onde as escolas erram com as experiências audiovisuais?
Cláudia Mogadouro: Propõem um trabalho pautado na cultura letrada. O cinema é adaptado para isso e aí se tem a valorização do seu conteúdo, somente, o que pode ser uma grande armadilha. Por exemplo, já vi casos de professores quererem usar o filme O Gladiador para fazer referência à Antiguidade. A questão é que o filme é uma representação contemporânea da antiguidade. Alguns professores usam filmes históricos como “túnel do tempo”, isto é, como se a história tivesse sido exatamente daquele jeito. O professor tem que se dar conta, e passar isso aos seus alunos, que o filme é uma leitura contemporânea de um período histórico, que também se apoia numa narrativa histórica construída. Claro que já vi professores fazerem trabalhos belíssimos, mas fica evidente que por mais que hoje tenhamos mais acesso ao audiovisual, não há uma cultura, uma formação dos professores, que dê esse respaldo. Aí se cai na ideia errônea de que o filme por si só vai tornar a aula mais interessante. Para trabalhar o cinema é preciso intencionalidade. Sem isso, há a banalização dos títulos. É preferível trabalhar três filmes por ano com qualidade do que passar um filme por semana e fazer um trabalho raso.
Clube do professor
Os cinemas da rede Espaço Itaú de Cinema e Cinespaço na cidade de São Paulo (SP) oferecem sessões de cinema exclusivas a professores do ensino formal e informal. Elas acontecem aos sábados e são gratuitas para o portador da carteirinha do Clube do Professor e um acompanhante.
Veja como participar.
CR: Acha que o trabalho dos educadores sociais pode apoiar na aproximação dos filmes com as escolas?
Cláudia Mogadouro: As minhas pesquisas são focadas em educação formal regular. Sou da educomunicação. Mas tenho muitos alunos em ONGs e o que vejo é que a escola tem muito a aprender com a educação não formal, justamente por ela não estar amarrada a um currículo. Claro que a formação do educador deve ser levada em conta de qualquer maneira, seu repertório artístico, estético e sua habilidade para diálogos.
Hoje o filme é quase como a caneta. As crianças filmam com o celular. O que me preocupa são os projetos que estimulam a produção de vídeos, mas não consideram a cultura audiovisual. Para você escrever uma resenha você tem que ler o livro, certo? Então é preciso que haja um referencial. Como produzir um vídeo sem saber da história do cinema e da cultura audiovisual? E isso é desprezado pelas escolas. O filme acaba ilustrando as aulas, sem sustentar discussões como obra de arte que é. Por isso, o papel da mediação. Porque aí o filme passa a ser percebido, muda cabeças.
CR: Como você avalia os documentários?
Cláudia Mogadouro: O trabalho com documentários no Brasil está maravilhoso e temos um leque de produções criativas. Ainda assim, o trabalho das escolas para com o gênero ainda é limitado e o erro está em encarar o documentário como uma verdade. Essas produções trazem recortes daquele assunto na visão do diretor, não são verdades absolutas. No entanto, além de inspirar, os documentários convidam a produções autorais, dos próprios alunos. Outro ponto é a possibilidade de se trabalhar a alteridade, a chance de olhar para o que geralmente não enxergamos. Dependendo da condução do trabalho, você pode sensibilizar para causas importantes. O cinema permite que eu vista a pele do outro e os documentários acabam abrindo janelas para a alma.
15 filmes nacionais para crianças e adolescentes verem em cada momento do desenvolvimento
http://educacaointegral.org.br/noticias/15-filmes-nacionais-para-ver-cada-momento-desenvolvimento-criancas-jovens/
Usar filmes na sala de aula é um dos recursos didáticos mais comuns, mesmo em instituições tradicionais. Poucos sabem, mas a exibição de produções nacionais nas escolas está inclusive prevista na legislação. Em 27 de junho de 2014, um projeto proposto pelo senador Cristovam Buarque transformou-se na lei 13.006. De acordo com o texto, define-se que “a exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à  proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.”
Mas, para além das determinações legais, a exibição e reflexão sobre filmes com os estudantes pode ser uma ferramenta importante para gerar debates acerca de aspectos relacionados ao seu desenvolvimento integral.
À convite do Centro de Referências em Educação Integral, a pesquisadora Claudia Mogadouro, pesquisadora do Núcleo de Educação e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), escolheu 15 produções nacionais para cada momento do desenvolvimento. O essencial, sempre, afirma Cláudia, é trabalhar o filme a partir de um objetivo, com uma intencionalidade pedagógica clara.
Para Cláudia, a exibição de produções nacionais nas escolas também é essencial para o próprio cinema produzido no Brasil. Ela afirma que, devido a leis de incentivo, a quantidade de obras nacionais aumentou muito nos últimos 20 anos. “Essas política públicas garantem a produção, mas não a exibição. Resultado: todos nós contribuímos para que os filmes sejam realizados, mas as chances de assisti-los são mínimas, pois ficam em cartaz pouquíssimo tempo”.
Confira a lista e as resenhas feitas pela especialista, com indicações de acordo com as diferentes etapas do desenvolvimento integral:
1. O Menino e o mundo
A premiadíssima animação de Alê Abreu traz elementos estéticos muito diferentes do que as crianças e jovens estão acostumados. Trata-se de um trabalho quase artesanal e por isso pode até causar certo estranhamento, porém é também uma experiência muito inspiradora quer seja pela música e trilha sonora (porque os sons do filme são fundamentais), quer seja pela visualidade. Como poucas obras, é um filme importante para todas as idades, pois há muitas camadas de leituras possíveis. Para crianças pequenas, pode ser uma experiência estética inédita. À medida que aumenta a idade do espectador, mais elementos da densidade dramática podem ser compreendidos. Fundamental para educadores (pais e professores), pois trata com sensibilidade como uma criança vê e sente o mundo dos adultos.
 EDUCAÇÃO INFANTIL
2. Turma da Mônica – Uma aventura no tempo
No 10º filme realizado por Maurício de Souza com a Turma da Mônica, é possível acompanhar muitas aventuras dos personagens Mônica, Cebolinha, Magali, Cascão e Franjinha em tempos diferentes da História. Tudo começa com uma acidentada experiência de Franjinha, que pretende juntar os quatro elementos da Terra – fogo, ar, água e terra – para fazer uma viagem no tempo.

3. O grilo feliz
Outro belo desenho animado, muito elaborado foi O Grilo Feliz, com direção do publicitário Rafel Walbercy Ribas. O personagem do grilo apareceu primeiramente em um comercial da Sharp nos anos 1980. O filme demorou 20 anos pra ficar pronto, estreando nos cinemas em 2001. Em 2009, a mesma equipe lançou a continuação no filme O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes. As duas produções foram lançadas em DVD. Na página oficial do filme há diversas atividades educativas, além de trailer dos filmes e o making of.

4. Tainá 3 – A Origem
O filme conta o início da saga de Tainá, já conhecida de muitas crianças a partir de Tainá – uma Aventura na Amazônia e Tainá 2 – A Aventura Continua. Nessa produção, as crianças acompanharão a origem da personagem, independente de já terem assistido ou não aos outros filmes. O cenário é a Amazônia e os temas da preservação ambiental, diversidade e consumo consciente estão muito presentes. Outra questão importante é o despertar para a cultura indígena: lendas, hábitos e modos de viver e brincar (inclusive com as novas tecnologias).

5. As aventuras do avião vermelho
A animação dirigida por Frederico Pinto e José Maia é uma adaptação da obra infantil de mesmo nome, escrita por Érico Veríssimo. Fernandinho é um menino de 8 anos muito levado, que gostaria de ter mais atenção do pai. Ele é solitário e não se sente à vontade na escola. O pai tenta agradá-lo com presentes, mas não acerta. Até que ele tem ideia de lhe dar um livro de sua infância. Encantado com a história, Fernandinho decide que precisa de um avião para salvar o Capitão Tormenta – aviador personagem do livro, que está preso no Kamchatka. A bordo do Avião Vermelho e junto com seus brinquedos favoritos, Fernandinho visita lugares inusitados e percorre vários lugares no mundo.
Ao longo dessa jornada, ele descobre o prazer da leitura, a importância de ter amigos e o amor do pai. Não só o enredo estimula o hábito de ler, mas também o fato de ser uma adaptação literária.
 EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL I e 2
6. Eu e meu guarda-chuva
Essa obra de Toni Vanzolini é uma criativa produção que permite reflexões sobre sentimentos profundos, de forma lúdica. Desde o início do filme sabe-se que o garoto Eugênio, de 11 anos, está muito triste com o falecimento recente de seu avô, de quem era muito próximo. A insegurança se acentua com o fato de ser o último dia de férias e ele, com seus melhores amigos, Frida e Cebola, passarão a estudar em um prédio muito antigo, carregado de histórias assustadoras. Resolvem, como última aventura de férias, explorar o cenário da nova escola,“assombrada” pelo fantasma do Barão de Von Staffen. O filme pode provocar debates que relacionem a história do filme às memórias das crianças. Elas podem discutir como superaram seus medos, como se apoiavam em seus objetos prediletos ou como se sentiam mais seguras para enfrentar as dificuldades.

7. Corda bamba, a história de uma menina equilibrista
Dirigido por Eduardo Goldenstein, é inspirado no livro “Corda Bamba”, de Lygia Bojunga. Maria é uma menina de 10 anos que nasceu no circo, filha de equilibristas, e que precisa lidar com uma difícil passagem em sua vida. Ela vai morar com a avó, na cidade, e não consegue lembrar de seu passado. Da janela do seu quarto, Maria atravessa sobre uma corda bamba para a dimensão do imaginário, onde irá recuperar sua memória e encontrar a possibilidade de seguir adiante. Filme muito sensível, com alguns lances de humor, mas também de drama. Fala de perdas e de traumas, com linguagem muito acessível às crianças e com plasticidade primorosa.

8
O menino no espelho
O filme, dirigido por Guilherme Fiúza Zenha, é outra adaptação literária, desta vez da obra homônima de Fernando Sabino. A história se passa em Belo Horizonte, em 1930. Fernando é um garoto muito levado, que está cansado de fazer as coisas chatas da vida. Em certo dia, o seu reflexo no espelho se solta e ele pode atribuir ao sósia as tarefas chatas, ficando apenas com a parte boa da vida. O fato de ser baseado em uma obra literária já é um bom motivo para que os educadores exibam o filme, porque sempre inspira a leitura. No caso de Fernando Sabino, pode inspirar o conhecimento de muitos dos seus livros infanto-juvenis. É interessante também que as crianças conheçam a representação do tempo de seus bisavós, o que pode desencadear pesquisas sobre como era a vida das crianças naquela época.
 EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL II e ENSINO MÉDIO
9. O segredo dos diamantes
Helvécio Ratton, que dirigiu este filme, é um diretor com muita sensibilidade para obras infanto-juvenis, como foi o caso de A Dança dos Bonecos (1986), Menino Maluquinho: O Filme (1995) e Pequenas Histórias (2007). Dirigiu também o ótimo Uma Onda no Ar (2002), que se dirige mais ao público adolescente. Seus filmes sempre se passam em Minas Gerais, o que é um atrativo particular para educadores, uma vez que a cultura televisiva, em geral, gira no eixo Rio-São Paulo. Em seu mais recente filme O Segredo dos Diamantes, ele narra uma história de suspense, um pouco no clima de Harry Potter. O protagonista é Ângelo, que tem 14 anos, descobre uma antiga lenda sobre diamantes perdidos e resolve desvendar o enigma em torno dessa história, na companhia de seus amigos Júlia e Carlinhos.  O vilão da história é interpretado pelo ótimo ator Rui Rezende. O cenário das cidades históricas de Minas merecem destaque.

Adolescência
Há muitos bons filmes brasileiros que abordam dilemas da adolescência e que contribuem para o debate sobre o que é ser jovem no Brasil atual.
As inseguranças próprias da idade somadas à precocidade das relações sexuais, a ansiedade e aceleração do tempo com a cultura digital, o consumismo e a presença das drogas na sociedade, enfim, há muitos aspectos que nos mostram uma distância muito grande entre a juventude atual e a geração dos educadores.
A chamada “era da informação” muitas vezes dá aos adultos a falsa impressão de que os adolescentes de hoje “sabem tudo”, o que pode provocar sérios equívocos, pois há questões dessa faixa etária que são universais e atemporais. É o que podemos ver nos filmes que não são apenas      protagonizados por adolescentes, mas narrados por eles, o que nos permite ouvir sua voz e, não raro, seu pedido de ajuda.
Os filmes listados abaixo filmes trazem os dilemas da adolescência, tratados, ao mesmo tempo, com humor e dramaticidade. Os realizadores, muito sérios em suas pesquisas prévias, souberam representar os adolescentes com delicadeza e seriedade, fugindo dos estereótipos de “jovem de sucesso”, normalmente apresentados nas produções televisivas e na publicidade.  É muito importante que educadores conheçam esses filmes que têm agradado ao público jovem, o que demonstra que eles desejam refletir sobre eles mesmos.

10. Houve uma vez dois verões
É o primeiro longa-metragem de Jorge Furtado, produzido em 2002 pela Casa de Cinema de Porto Alegre. A história é de Chico e Juca, dois amigos, com aproximadamente 16 anos, cujas famílias não têm recursos para financiar férias na praia em alta temporada. Só lhes resta, então, tentar se divertir na primeira quinzena de março, em uma praia quase deserta. As poucas garotas interessantes parecem já ter namorado e a chance deles conseguirem perder a virgindade parece remota. Eis que uma garota bonita e descolada parece cair do céu e transa com Chico, deixando-o completamente apaixonado. A garota desaparece e o procura um mês depois, informando que está grávida. Muitas idas e vindas acontecem, prevalecendo o olhar apaixonado de Chico para uma garota com todos os       indícios de ser uma golpista, apesar dos avisos de seu hilário amigo Juca. Romantismo, fliperama, provas da escola, ingenuidade, garotas idealizadas e discussões sobre iniciação   sexual recheiam esse filme aparentemente despretensioso. Mas é na simplicidade, tanto na trama como nos recursos de filmagem, que residem a riqueza da obra.

11. Antes que o mundo acabe
É o primeiro longa em que Ana Luíza Azevedo assina a direção, embora já tivesse seu nome bastante conhecido como co-roteirista e assistente de direção, principalmente ao   lado de Jorge Furtado. Neste filme, a narradora é uma criança, a irmã mais nova de Daniel – o protagonista de 15 anos de idade. A trama se passa em uma cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, com muitas bicicletas, onde a vida é aparentemente muito previsível. Eis que Daniel vê seu chão se abrir quando começa a receber cartas de seu pai, que nunca conheceu. Daniel se vê obrigado a lidar com sentimentos que estavam sufocados, ligados à rejeição desse pai que agora insiste em reaparecer por meio de cartas misteriosas. Soma-se a essa novidade: a indecisão da namorada, problemas com seu melhor amigo e a iminência de ter que continuar os estudos em uma cidade maior. Em meio a todas essas questões, ele será chamado a realizar suas primeiras escolhas adultas e descobrir que o mundo é muito maior do que ele pensa. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Carneiro da Cunha. Abordagem delicada e bem humorada de valores ligados à família, namoro, amizade e da insegurança do futuro.

12. As melhores coisas do mundo
Esse é o terceiro longa dos premiados cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. É inspirado nos livros da série Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. O protagonista é Mano, 15 anos, que sonha em tocar guitarra para agradar as meninas, e deseja a garota mais “gostosa” da escola, circula de bicicleta pela cidade e vai na onda da turma, tentando ser “popular”. A separação dos pais o coloca em situações difíceis,        sobre as quais ele desabafa com sua melhor amiga Carol. Seu irmão mais velho, Pedro, é uma importante referência em sua vida, porém, durante a crise familiar, revela maior       fragilidade que Mano. Os adultos são de carne e osso, isto é, também têm dúvidas sobre suas opções, nem sempre dão conta de compreender o que se passa com seus filhos, nem sempre são coerentes. Uma instância formadora privilegiada na trama é o professor de violão de Mano, que é sensível às suas dores e o desafia no aprendizado musical como fortalecimento de sua personalidade. O amadurecimento de Mano é simbolizado pela cena inicial – em que ele se imagina tocando guitarra e sendo aclamado por uma multidão – e a cena final. A cultura digital é bastante presente, mas nem sempre de forma positiva.

13. Hoje eu quero voltar sozinho
O longa metragem de Daniel Ribeiro estreou em 2014 e obteve êxito nas bilheterias, justamente por trazer uma abordagem muito leve e criativa. A classificação indicativa do filme é de 12 anos. O despertar da sexualidade é tratado com muita naturalidade entre os adolescentes, mas com duas  variantes que não são vistas comumente: o protagonista        Léo é cego começa a gostar de Gabriel, um aluno que chegou há pouco tempo do interior. O mediador deve proporcionar que os estudantes se expressem espontaneamente. O tema da homossexualidade pode trazer nervosismo e, com isso, piadas de mau gosto. Sem reprimi-las, sugere-se que as aproveite para discutir a homofobia em nossa cultura. O filme também trata do desejo de autonomia em relação aos pais, o que é comum entre os adolescentes. Mas a deficiência visual de Léo potencializa esse problema, dando a oportunidade de se discutir a relativa e  crescente autonomia que os adolescentes vão conquistando à medida que amadurecem.

14. Uma história de amor e fúria
Na animação premiadíssima, dirigida por Luiz Bolognesi, há uma história de amor entre um herói imortal e Janaína, a mulher por quem é apaixonado há 600 anos. O herói assume vários personagens, mas seu espírito de luta permanece o mesmo, especialmente porque seu amor o alimenta.
O filme conta 4 episódios de momentos diferentes da História do Brasil, contados a partir do ponto de vista dos vencidos. Três deles são reais: a guerra entre Tupiniquins e Tupinambás, no início da colonização portuguesa, em 1565; a revolta ocorrida no Maranhão, conhecida como Balaiada, em 1825 e a guerrilha urbana, no período da ditadura militar, em 1968. O quarto episódio é uma projeção do futuro, em 2096.
Com base na mitologia indígena, o herói foi escolhido para ser imortal e lutar eternamente contra Anhangá – o signo da morte e da destruição. Janaína morre e renasce em cada episódio. O filme mostra a violência que se tornou intrínseca na sociedade brasileira, mas também o amor que mantém acesa a chama da luta política e o desejo de transformação.

15. Bicho de sete cabeças
A estreia da diretora Laís Bodankzy, com roteiro de Luiz Bolognesi, é de 2001, mas ainda é bastante atual e causa sempre muito impacto nos espectadores. Rodrigo Santoro, em ótima atuação, interpreta Neto, um adolescente de classe média baixa que levava uma vida “normal” até o dia em que seu pai, interpretado por Othon Bastos, encontra um cigarro de maconha no bolso do seu casaco. O pai o interna em um hospital psiquiátrico, onde Neto viverá um verdadeiro inferno. As transformações pelas quais ele passa alteram completamente sua relação com o pai. É um filme sobre o emudecimento das relações familiares. O filme, entre outros temas, pode desencadear uma discussão sobre a loucura, a exclusão e dependência química (inclusive de drogas consideradas lícitas).

Nenhum comentário: